quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Tragédia em Santa Catarina

É Tão Diferente das Tragédias Diárias?




















Esse é um assunto delicado, pois trata-se de acima de tudo milhares de vítimas e centenas de mortos. Mas é necessário mesmo nesse momento vermos alguns pontos pertinentes, que se tivessem sido analisados antes, muita coisa poderia ser evitada e mais... Até que ponto praticamos solidariedade? A dor de uns é diferente da dor de outros? Existe interesse na ajuda por parte do governo? E das pessoas? O que parte de nós?

Realmente o ocorrido em Santa Catarina é um dos episódios mais tristes da história. Números alarmantes que nem preciso citar, aliás, esse nem é o ponto onde quero chegar, e sim onde a ajuda tecnicamente não chegou. O sul do País foi castigado por chuvas torrenciais, mas não foi somente lá que isso ocorreu. Cidades de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro também sofreram perdas com alagamentos e desabamentos.

Imediatamente se fez uma mobilização nacional, envio de roupas, alimentos, água e abertura de conta corrente com propagandas na televisão muito mal elaboradas dizendo: “Santa Catarina, que todos os anos recebe turistas do Brasil e do Exterior precisa da sua ajuda.”

Procurei saber a situação dos outros lugares e fiquei sabendo que nada havia acontecido de produtivo por lá, cidade ilhadas, pessoas sem casa, tudo destruído e nenhuma ajuda sequer. Em Rio Bonito (RJ) por exemplo a cidade ficou três dias sem nenhum atendimento enquanto o Governo do Rio se mobilizava na campanha para o Sul. Conversava com as pessoas e tocava nesse ponto e pra minha surpresa um amigo me falou: “Ahhh mas é porque nesses lugares não morreu ninguém, você quer comparar?” Por pouco eu não peguei o telefone e liguei pra Prefeitura de Rio Bonito dizendo: “Alô Sr. Prefeito... dá um jeito de morrer alguém aí pra ajuda poder chegar!!!”

Infelizmente é nítida a preferência de algumas entidades. Tanto que até conseguem cegar a população. Parece que se colocássemos duas famílias desabrigadas lado a lado, com o mesmo numero de pessoas, cada uma com uma placa do seu respectivo lugar, ex: Santa Catarina e Espírito Santo. Todos escolheriam ajudar a primeira família tendo em vista a comoção nacional criada.

Posso estar parecendo insensível, mas longe disso. Só estou falando do que ninguém quer falar!! A capa da Revista Veja por exemplo foi totalmente sensacionalista.
O que mais me deixa intrigado é que tragédias estão presentes no nosso país todos os dias, com resultados finais maiores, bem maiores que esse. Moradores das palafitas, regiões carentes onde pessoas morrem pela falta de necessidades básicas, fome, seca no nordeste, que no momento passa por gravíssima estiagem, pessoas e animais dividem a mesma fonte d’água, doenças são transmitidas e mortes que talvez nem chegue ao obituário.

Mas nenhuma conta é aberta, não há mobilização pra arrecadar mantimentos, roupas, remédios, ou sequer água potável que tanto tem sido doada ultimamente. Mas esse não é um privilégio nosso. Há registros bem semelhantes dessa situação em dois lugares diferentes.

29 de agosto de 2005 – Furacão Katrina
Cidade atingida – Nova Orleans (EUA)

O Governo Norte-Americano demorou a fazer o processo de evacuação do local, que seria o mais atingido. Estava mais preocupado com a Flórida... Cidade também devastada pelo Furacão mas com conseqüências bem menores, saldo final: 6 mortes diretas.

Nova Orleans ficou a mercê do furacão antes e depois de sua passagem, Alguns dos diques que protegiam Nova Orleães não conseguiram conter as águas do Lago Pontchartrain, que afluiu município adentro, inundando mais de 80% da cidade. Cerca de 200 mil casas ficaram debaixo d'água em Nova Orleans, sendo que foram necessárias várias semanas para que a água pudesse ser totalmente bombeada para fora da cidade. O furacão causou grandes estragos; entre eles, danos no sistema de abastecimento sanitário e de esgoto de Nova Orleães. Isto fez com que muitos só pudessem retornar no verão de 2006. Saldo Final: 1000 mortes.

O Governo agiu em locais que são grandes contribuintes financeiros, isso ficou claro. É bem parecido com o que acontece aqui.

Tentaram me provar o contrário falando a respeito da Tsunami, onde pequenos países da Ásia foram os mais atingidos. Engana-se quem pensa o contrário do meu pensamento pois eram áreas onde o Turismo é uma imensa fonte de renda, tanto que grande parte das vítimas não eram do local. Um dos locais atingidos era até “set de filmagem” para filmes de Hollywood.

Não estou querendo dizer que as pessoas estão certas ou erradas, apenas mostrar fatos que ninguem quer enxergar. Não quero dizer que as pessoas e os Estados do Sul não devam ser ajudados, só quero mostrar que existe vida (e morte) em outros locais onde as cameras de TV não chegam (Porque não querem, não interessa). E que está havendo diferenciação no tratamento as regiões e pessoas.

Agora o outro aspecto: Sempre em situações como essa de grande mobilização em favor de necessitados, ouvimos a célebre frase – “O Ser Humano mostra sua força, sua união..” coisas do tipo. Na minha opinião é hora que se mostra a burrice! Desculpa, mas só falando assim, porque é só nesses momentos em que conseguimos olhar para o outro, quando a dor é tão grande que não há como fechar os olhos para as coisas que acontecem e sempre achamos que não é conosco!! E depois tem que consertar!!

Exemplo: Grandes áreas atingidas pela tragédia, especialmente no Sul, são áreas de encostas, algumas até area de preservação, onde um dia alguem fechou os olhos depois de ter o “bolso favorecido” para que uma grande construtora se apropriasse do local, isso sem falar nas florestas que foram dizimadas para a criação de gado e rotação de cultura (plantio).

É só fazer uma análise de povos e culturas desenvolvidos socialmente, todos eles se reergueram a partir de tragédias e nunca mais cometeram aqueles erros, dando valor a vida das pessoas. Eu tenho 99,9% de que no próximo verão aqui no Rio vamos ter mais uma epidemia de Dengue, pois os verdadeiros criadouros não são o meu vasinho de planta, minhas garrafas e meus pneus, e sim as grandes áreas sem saneamento. Mas os órgãos competentes enxergam isso como “custo aos cofres públicos”.

Não espere uma tragédia pra ajudar
Não espere uma tragédia para agir
Não espere uma tragédia pra sentir
Não espere uma tragédia pra mudar

Pois a próxima... quem sabe...



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